Viagem literária: Paris é uma festa!

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14 de juillet

Inauguro essa seção de resenhas com um livro fininho, que nos acompanhou em nossa última visita à Paris: Paris é uma festa, um clássico de Ernest Hemingway. É fininho e leve, mesmo quando trata de alguns assuntos mais pesados, como o vício em ópio de um de seus amigos e de outros momentos que não relatarei para não estragar a surpresa de quem ainda não o leu.
 
 
 
A impressão que tive foi que Woody Allen virou a última página e foi correndo atrás das autorizações necessárias para filmar o também levinho Meia-noite em Paris. Mas, pensando bem, acredito que alguém como ele já havia lido o livro há tempos e o remoeu durante anos antes de amadurecer que tipo de abordagem daria a um filme inspirado nessa obra.
 
 
Porque “Paris é uma festa” é assim: leve, fino, agradável de ler, mas que lhe fará pensar nele sempre que pensar em Paris e pensar em Paris sempre que pensar no livro. E acredito que só se apreende várias entrelinhas da obra nesse exercício permanente, algum tempo depois da leitura. Serão, para sempre, livro e cidade, absolutamente indissociáveis. Assim, Woody Allen, querendo prestar uma de suas características homenagens às cidades, transformando-as em personagem, quando o fez com a mais bonita delas não conseguiu se afastar da experiência de Hemingway.
 
 
Muito se deve, é claro, à impressão de que Paris já era do jeito que é hoje desde a década de 1920, período que teve o privilégio de ser o epicentro do mundo intelectual e ter tanta coisa bacana para oferecer aos estrangeiros que foram aproveitar a atmosfera da época.
 
 
Ponto baixo: a impressão de que Hemingway deixou muita coisa de fora, censurando detalhes em respeito aos amigos.
Ponto alto: o fato de ser uma autobiografia, não revisada pelo autor, em razão de seu suicídio em 2 de junho de 1961, tornando as impressões mais autênticas. E o que dizer de um autor que escreveu passagens como essas?
 
 
Se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante“.
 
 
“Paris não tem fim, e as recordações das pessoas que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras. Mais cedo ou mais tarde, não importa quem sejamos, não importa como o façamos, não importa que mudanças se tenham operado em nós ou na cidade, a ela acabamos regressando. Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê“.
 
 
“Na Europa, então, todos consideravam o vinho tão normal e sadio como qualquer bom alimento, além de grande fonte de alegria e bem-estar. Beber vinho não era esnobismo ou sinal de sofisticação, nem uma espécie de culto. Era tão normal como comer e, para mim, igualmente necessário“.
 
 
“[…]nunca se deve viajar com uma pessoa a quem não se ame”.
 
 
Ensinamento para a vida, não?

Sobre Liliane Gondim

Curiosa até não poder mais, amo viajar, com especial predileção pelos destinos onde se exige passaporte, mas se dispensa o visto. Amo ler, qualquer coisa, basta ser bem escrita e envolvente. Não tenho o espírito elevado a ponto de comer de tudo, mas creio que um povo pode ser compreendido a partir de sua comida. Por fim, constato todos os dias que Deus não dá asa à cobra.

Uma resposta »

  1. Adorei Lili 🙂 Muito sábios os ensinamentos sobre vinho e viajar com quem a gente ama. A @regina26 já tinha falado deste livro, fiquei ainda com mais vontade de lê-lo. Bjs 🙂

  2. Sabe que me deu uma baaaaita saudade do livro lendo seu post, Lili? acabei perdendo o dito cujo numa mudança; terei que comprar outro. SEMPRE que estou em Paris essa frase me acompanha: “Paris não termina nunca” 😀

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